No dia 12 de Novembro de 2010, a Ópera de Hamburgo recebeu uma das maiores cantoras líricas de todos os tempos - Edita Gruberova - que interpretou, alegadamente pela última vez em versão encenada, o papel de Violetta Valéry em La Traviata, de Giuseppe Verdi.
Como sempre, a presença da Primadonna Assoluta levou a que a casa estivesse esgotada, com inúmeras pessoas no exterior a desesperar por um bilhete. O ambiente era de grande expectativa. E, uma vez mais, a expectativa foi coroada de êxito e o milagre voltou a acontecer: Edita Gruberova revelou ser uma das maiores intérpretes de sempre deste papel, deslumbrando o público que enchia por completo a Hamburgische Staatsoper.
Os cenários eram clássicos e grandiosos. No primeiro acto, Edita surgiu com um vestido de noite branco, na sala de baile. Deslizava com graciosidade sobre o palco, enchendo de champagne os copos dos seus convivas. Enquanto o fazia, sorria e fazia soar as primeiras notas que, com a maior elegância, brotavam da sua voz cristalina.
E foi, precisamente, logo neste primeiro acto, que a Gruberova triunfou ao cantar com um vigor impressionante È strano! ... Ah, fors'è lui. Follie! Follie! ... Sempre libera. O público foi levado ao delírio, perante o desempenho não só vocal, mas também interpretativo, que foi verdadeiramente impressionante.
No segundo acto, Edita transmitiu duma forma absolutamente tocante a dor de Violetta ao aceitar a separação de Alfredo, a pedido de seu pai. As lágrimas brotavam verdadeiramente dos seus olhos enquanto cantava, num pianissimo arrepiante, Ah! Ditte alla giovane.
No terceiro acto, a Gruberova também arrepiou o público enquanto cantava, tombada no solo após a humilhação a que Violeta tinha sido submetida por Alfredo na casa de Flora, Alfredo, Alfredo, di questo core.
Mas o clímax do dramatismo interpretativo, surgiu no quarto e último acto. No final da leitura da carta, a Gruberova exclamou com uma profundidade e uma dor arrepiantes "È tardi", transmitindo um desespero imenso. Seguidamente, Edita Gruberova emitiu os mais supreendentes agudos em pianissimo, na ária Addio del passato. No final desta dificílima ária, houve uma ovação em cena impressionante, de vários minutos, em que o público não cessava de gritar "Brava! Brava!". Edita, reconhecida, inclinou-se em sinal de agradecimento.
Mas a ópera ainda não havia terminado. Seguiram-se duos formidáveis com José Bros (Alfredo). No final, Edita conseguiu comunicar ao público a sensação de que a sua alma principava a elevar-se, antes de tombar inanimada no solo, no momento em que a ópera termina. Notem que, apesar dos seus 64 anos, Edita Gruberova mantém uma capacidade física notável, não se coibindo de toda a gestualidade e actividade física cénica, tal como cantar em posições difíceis, inclinada ou deitada, bem como tombar no solo. Impressionante!
Após uma interminável sucessão de aplausos no final da ópera, em que Edita foi premiada com numerosos ramos de flores que lhe foram atirados pelo público, seguiu-se, no palco, uma homenagem prestada pela Hamburgische Staatsoper. Nesse dia (12 de Novembro), comemoravam-se exactamente 40 anos desde a primeira vez que Edita Gruberova actuou naquele palco. No palco foi colocada uma mesa e um pequeno canapé, no qual Edita se sentou. Atrás de si, estavam de pé todos os cantores. Ao lado de Edita e em pé, estava a maestrina titular da Orquestra Filarmónica de Hamburgo - Simone Young - que proferiu palavras de profundo agradecimento a Edita Gruberova por todos os magníficos momentos que tinha oferecido ao público, naquele palco, ao longo dos últimos quarenta anos. Enumerou os diversos papéis que Edita interpretou naquela casa. Por fim, ofereceu a Edita uma fotografia sua no papel de Zerbinetta (na ópera Ariadne auf Naxos de Richard Strauss), no início dos anos setenta, naquele palco. O público aplaudia de pé, vigorosamente.
Por fim, Edita Gruberova tomou a palavra para agradecer a homenagem e, entre outras palavras simpáticas, para dizer ao público "vamo-nos vendo por aí nos próximos... 40 anos?!". Com um enorme sentido de humor e, ao mesmo tempo, revelando uma energia fantástica, Edita disse assim ao público que pode continuar a contar com a sua presença. O público aplaudiu intensamente e Edita teve ainda de regressar inúmeras vezes ao palco, perante o público que gritava incessantemente pelo seu nome: "Edita!!!"
Ao lado de Edita, estiveram José Bros (Alfredo), Dalibor Jenis (Giorgio Germont) e Renate Spingler (Flora).
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