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Luiz Cequinel/Divulgação

Curitiba e a ópera
As notícias que chegam de outras capitais, como São Paulo e Manaus, principalmente, e em menor escala, de Belo Horizonte, Brasília e Belém, mostram que todas as produções, desde as mais modestas às mais grandiosas, recebem um caloroso apoio do público. Em Curitiba, nunca foi diferente. Desde os tempos da saudosa professora Neyde Thomas, que escolheu Curitiba para viver e difundir o seu conhecimento e experiência como grande diva internacional, atraindo alunos de todos os cantos do Brasil, a cidade sempre acolheu com entusiasmo esses espetáculos cênico-musicais. A escola de canto lírico desenvolvida pela ilustre professora produziu algumas das grandes vozes da atualidade, tais como Marília Vargas, Kismara Pessatti, Gabriela Di Laccio, Márcia Kaiser, Ana Toledo, entre outros nomes que vêm se destacando no cenário nacional e internacional em todos os estilos.
Limitações
Porém, a iniciativa de produção de óperas em nossa cidade, já há algum tempo, ficou por conta de projetos pontuais defendidos por uns poucos e valorosos militantes da causa. A série Ópera Ilustrada, da Capela Santa Maria, uma iniciativa louvável e muito bem-sucedida da Fundação Cultural de Curitiba, tem sido o único alento para o público interessado nos últimos tempos. Mas, por outro lado, o espaço da capela não é totalmente adequado para esse tipo de apresentação, pois se trata de um local destinado à música de câmara.
Naturalmente, quando se pensa em ópera, se pensa numa montagem grandiosa da chamada “grande ópera”, do período romântico, no século 19, justamente a época de Verdi e Wagner. A limitação imposta pelo espaço diminuto da capela, por outro lado, abriu novos horizontes, obrigando os produtores a buscar obras que fossem viáveis ali. Isso fez com que se pudesse dar a conhecer as criações tanto de épocas mais remotas quanto mais recentes. Óperas dos séculos 17, 18 e início do 19, além da enorme produção do século 20 e atual, passaram a fazer parte das programações.
Outras instituições passaram também a atuar nessa área, como a própria Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), com seu núcleo de ópera, enfatizando pequenas produções em língua inglesa, algo muito raro fora do mundo anglófono; a Universidade Federal do Paraá (UFPR), tanto a partir do seu Departamento de Artes, focado no estudo e difusão da ópera nos seus primórdios no século 17, quanto a Orquestra Filarmônica da UFPR.
Isso tudo sem falar em projetos privados que vêm despontando ocasionalmente. No último mês de julho, aconteceu a montagem da ópera L’Ocasione Fa il Ladro (A Ocasião Faz o Ladrão), de Gioachino Rossini, no Festival de Inverno de Antonina, numa montagem da Orquestra Filarmônica da UFPR, por iniciativa de seu regente, Márcio Steuernagel. Um trabalho hercúleo realizado sem patrocínio, inteiramente baseado no voluntariado. O impacto causado ao público antoninense foi muito grande. Foi a primeira vez que uma ópera era apresentada na cidade e o público abarrotou o teatro local. A montagem foi repetida em Curitiba, no Pequeno Auditório do Teatro Positivo e em temporada com três apresentações no Teatro da Reitoria. A resposta do público foi igualmente positiva.
Mas, e as grandes produções não só de Verdi e Wagner, mas também de Carlos Gomes, Bizet, Donizetti, Rossini, Mozart, entre tantos outros? Essas, somente o Teatro Guaíra tem estrutura para montar. Ao contrário de muitas capitais com menos recursos que Curitiba, vamos terminar o ano do bicentenário dos maiores mestres da ópera sem uma grande produção sequer para homenageá-los. A ópera é um espetáculo que movimenta um número sem igual de profissionais e sua capacidade de se reinventar é surpreendente. As possibilidades de criação nos cenários, recursos de iluminação, figurinos e de fantasia, de um modo geral, não têm limites nas produções atuais. Tudo isso deveria fazer parte da programação, pois em nada ficamos a dever para outras capitais.
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